Escrito-relido. Desnudo-redescubro.

Com certa recorrência é necessário organizar as coisas soltas por aqui. Seja na vida, na caixa de email ou no bloco de notas com mensagens espalhadas pelo HD. Foi assim que novamente vi a ordem no meio de um monte de datas e diálogos que em minha cabeça já confundiam as pernas e saíam cambaleando por aí (embora eu não tenha me esquecido de nada).
Notei, com aquele sorriso, como havia melosidades em meio a pornografia que eu guardei pensando em nós, ou simplesmente em mim (e que geralmente envolvia terceiros). Mas o mais engraçado é que esta última não me causa nenhuma vergonha.
No entanto, aquelas palavras, coisas inocentes… Ah! (quem dera minhas eternas exclamações dissessem tudo).
Relembrei com o espanto inicial: estar apaixonado é perder o valor das horas – como de fato eu dissera. É perder o valor dos julgamentos tácitos. É perder a compostura, as linhas que nem entraram nos buracos das agulhas. Essa coisas, que já quis descrever tantas vezes e sempre ficam pela metade.
Ler outra vez essas cartas (sempre as imaginei assim, você sabe, todos aqui sabem da fantasia) traz um misto de sensações. Não sei, tanta loucura… E pode ter sido apenas um sonho… Já faz tanto tempo. E o que nós somos além de um sonho dentro de um sonho, não é mesmo?¹ É, talvez essa tenha sido a moral mais bonita que já ouvi, porque o que se passa aqui dentro ninguém nunca irá saber. “Sobre nós dois, ninguém vai saber de tudo”. Nem eu, nem você. Porque somos dois, amor, sempre fomos dois. Mas isso não importa – e é ao mesmo tempo, extremamente crucial.
Eu posso voar nos sonhos, e isso poderá ser a maior experiência sensorial que minha memória guardará, até que qualquer dia eu a sinta novamente quando tomamos um café na Avenida Sete.
Ou eu já a tenha revivido quando me beijou os olhos, que mesmo fechados, enxergariam para sempre como o homem pode ser terno e extremamente sentimental. Sinto. Sinto tanto. Senti. Você só me fez perceber o quanto. Quão patente era a minha humanidade, e como eu poderia me expôr feito a obra mais bela que já escrevi, pintei ou compus. O amor é aquilo que somos, somos aquilo que damos, damos aquilo que nem sabíamos ser. E o maior presente, é quando alguém nos recorda isso.

O verbo estará sempre no infinitivo, independente dos pronomes. E foi ele mesmo que, feito minha face despida nestes sonhos, convicto decretou:

– Conjuga-me, antes mesmo de me decifrar, ou então te devoro.

1 – “Tudo o que vemos ou transparecemos
É nada além de um sonho dentro de um sonho”
(In “Histórias Extraordinárias” de Edgar Allan Poe)

Deixe um comentário